domingo, 22 de setembro de 2019

Gerações Pré e Pós-diluviana




A cronologia bíblica é tema de controvérsia, mesmo no meio teológico em que alguns afirmam que os dias e anos relatados no primeiro livro da Bíblia, Gêneses, são alegóricos, enquanto outros estudiosos afirmam que são literais.

Os que acham que a cronologia é alegórica, como argumentação utilizam a longevidade dos primeiros seres humanos, pois afirmam que é impossível que o homem tivesse vivido quase um milênio. Todavia, o que os estudos recentes têm mostrado é que dentro de onze décadas a expectativa de vida passou de quarenta para oitenta anos, provando que dentro de cento e dez anos dobrou[1]. Portanto, é possível que o ser humano, no começo do mundo, tivesse a longevidade de vida como a narrativa bíblica afirma.

A Bíblia relata que após criar todas as coisas no sexto dia, Deus fez avaliação de sua obra e viu que tudo que fizera era muito bom[2]. Contudo, após a criação, o homem cedeu à tentação ao comer do fruto proibido e como uma das consequências a terra foi amaldiçoada por causa de Adão, resultando na desorganização do universo e o ser humano foi, também, afetado[3].

A ciência explica a desorganização do universo pela segunda lei da entropia[4] a qual afirma que o universo caminha do organizado para o desorganizado.

Após a queda, Deus disse que haveria inimizade entre o descente da mulher, chamada de filhos de Deus, e dos descendentes da serpente, chamada filhos dos homens, fato narrado no primeiro livro da Bíblia, Gêneses, sendo essa passagem considerada o protoevangelho[5].

Enquanto Adão e Eva estiveram no Éden, não geraram filhos, pois segundo a descrição bíblica, Caim e Abel foram gerados após a queda[6]. Não durou muito para que acontecesse mais uma investida do tentador, incitando o primeiro assassinato: Caim matou seu irmão, Abel, por esse apresentar sacrifício aceito a Deus.

Ponto importante a destacar é que, diferentemente de Adão e Eva, que apesar do pecado original tiveram misericórdia da parte do Senhor e os prometeu o descendente que esmagaria a cabeça da serpente (Satanás), Caim, mesmo sendo alertado sobre seus maus desígnios, atentou contra a vida do seu irmão e como castigo foi banido da graça de Deus, sendo o precursor da linhagem dos filhos do homem. Este incidente, delineia a história das linhagens: a primeira, chamada de filhos dos homens; e a segunda, chamada de filhos de Deus.

O presente estudo se deterá com a linhagem dos filhos de Deus, pois é dela que nasceu o Cristo Salvador. Para melhor compreensão, segue cronograma da linhagem dos filhos de Deus:


O cronograma mostra que de Adão até Noé (geração pré-diluviana) passaram dez gerações e de Noé até Jacó (geração pós-diluviana), doze, quando a expectativa de vida caiu da casa dos novecentos para a casa dos cem anos.

Geração pré-diluviana

Na geração pré-diluviana, quem mais foi contemporâneo dos seus descendentes foi Adão que conheceu oito, e quando morreu, Lameque, pai de Noé, estava com cinquenta e seis anos.

Sete, terceiro filho de Adão, morreu quando Lameque, pai de Noé, estava com cento e sessenta e oito anos.

Noé contava com seis anos de idade quando Enos morreu, cento e nove anos quando Cainã morreu, com cento e sessenta e nove quando Maalalel faleceu, com duzentos e quatro anos quando Jerede fechou os olhos. Matusalém, o homem que mais viveu, faleceu quando Noé, seu neto,  estava com quinhentos e oitenta e dois anos e seu pai, Lameque, foi a óbito quando Noé estava com quinhentos e noventa e cinco anos, há cinco anos das águas do dilúvio começarem a cobrir toda a terra.

Algumas considerações sobre Noé: ele, certamente, compareceu a maior quantidade de cerimônias fúnebres da história, inclusive sete dos seus ascendentes, bem como presenciou a maior catástrofe que dizimou toda a humanidade e todos animais que possuíam fôlego em suas narinas, escapando só ele e sua família.

Fato curioso nessa geração pré-diluviana aconteceu com Enoque, o sétimo descendente de Adão, que não passou pela morte, mas foi transladado para o céu, porque andava com Deus e quando foi transladado contava com trezentos e sessenta e cinco anos.[7]

Outra curiosidade da geração pré-diluviana é que dos dez indivíduos, sete viveram mais de novecentos anos: Adão, Sete, Enos, Cainã, Jerede, Matusalém e Noé; Maalalel viveu mais de oitocentos anos e; Lameque, Pai de Noé, viveu mais de setecentos anos.

Nas Escrituras Sagradas não há acaso ou coincidência! nessas gerações e em todas observamos a mão de Deus dirigindo o curso da história.

A média de idade da geração do primeiro filho na linhagem pré-diluviana foi de cento e dezessete anos, exceto Noé que gerou a Sem, Cam e Jafé, com a idade de quinhentos anos e seus ascendentes direto não morreram pelas águas do dilúvio.

Os irmãos e irmãs de Noé[8], seus tios e tias, primos e primais, seus familiares, amigos e conhecidos não creram na pregação de Noé e foram exterminados nas águas do dilúvio, só se salvaram Noé e sua esposa, seus três filhos, Sem, Cam, Jafé e suas respectivas esposas[9]. Os filhos de Noé só geraram descendentes depois que saíram da arca.

Antes de tratarmos da geração pós-diluviana, faz-se necessário comentar o motivo que levou o Criador a enviar o dilúvio sobre a face da terra. O autor de gêneses nos relata o motivo:
“Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres, as que, entre todas, as mais lhe agradavam. Então disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos....[10] Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do coração...[11] porém Noé achou graça diante de Deus”[12].

Com a explicação, à luz do texto bíblico, sobre o motivo que Deus enviou o dilúvio, discorreremos  sobre a geração pós-diluviana.

Geração pós-diluviana

O elo de união das gerações pré e pós diluviana foram oito pessoas que receberam a incumbência de multiplicar e encher a terra[13].

Noé viveu mais trezentos e cinquenta anos após o dilúvio, mas curioso é que as narrativas dos ascendentes dele eram: “depois que gerou..., viveu...anos e teve filhos e filhas”, enquanto a narrativa de Noé diz: “Noé, passado o dilúvio, viveu ainda trezentos e cinquenta anos. Todos os dias de Noé foram novecentos e cinquenta anos; e morreu”[14] . Portanto o texto revela que Noé não gerou nem filho e nem filha depois do dilúvio.

Qual o propósito de Deus colocar Noé, sua esposa, seus filhos com suas esposas na arca, exatamente, pessoas casadas, e não pessoas solteiras, como também, casais de animais e não criaturas isoladas? Provavelmente, ao colocar casais e não indivíduos solteiros, inclusive entre os animais, era para mostrar que Deus instituiu o casamento entre macho e fêmea, numa relação monogâmica e que deve permanecer assim, enquanto houver mundo[15].

Talvez Deus não colocou solteiros, homem ou mulher, na arca, para preservar os casais, pois conhecia bem a natureza pecaminosa do ser humano de caírem em tentação. E se Deus colocasse na Arca Apenas Noé, sua esposa e seus filhos sem suas esposas, o que aconteceria? Como falamos anteriormente, após o dilúvio Noé não gerou filhos, nem filhas e nesse caso a humanidade se acabaria após a mortes de seus três filhos, todavia não foi assim, pois dos três filhos de Noé surgiram as nações[16].

A Seguir, estaremos transcrevendo a contemporaneidade entre os descentes pós-diluvianos, tomando a soma das idades quando foi gerado o primeiro filho dos descentes e a quantidade de anos que viveram após a geração do primeiro filho, até se aproximar da idade do ancestral que desejamos saber. O resultado dará o descendente e sua idade quando aquele ancestral faleceu. A lista segue ordem de nascimento, conforme relato na Bíblia:
Noé morreu quando Tera, pai de Abraão estava com 30 anos[17];
Sem faleceu quando Isaque contava com 50 anos[18];
Arfaxade morreu quando Jacó e Esaú estavam com 15 anos[19];
Selá faleceu no ano de nascimento de Jacó e Esaú[20];
Héber faleceu quando Jacó e Esaú estavam com 20 anos[21];
Peleque morreu quando Isaque contava com 29 anos[22];
Réu morreu quando Abraão, seu tataraneto, contava com 78 anos[23];
Serugue faleceu quando Isaque, seu tataraneto, estava com 1 ano[24];
Naor morreu quando Isaque, seu bisneto, estava 19 anos[25];
Tera morreu quando Isaque, seu neto, contava com 35 anos[26];
Abraão faleceu quando Jacó e Esaú, seus netos, estavam com 15 anos[27];
Quando Isaque faleceu, seus filhos Jacó e Esaú tinham 120 anos[28].

Após o dilúvio, a terra sofreu grandes transformações, que influenciaram a qualidade de vida, reduzindo drasticamente os anos de vida e podemos observar que Sem foi contemporâneo de seus descentes por onze gerações, chegando até Isaque. Porém, a partir de Réu, o sexto na linha descendente, alcançou sua quinta geração, ou seja, seu tataraneto Abraão. Já seu pai, Tera, foi contemporâneo até seu neto, Isaque.

Ao comparar a longevidade das gerações pré e pós-diluviana, a primeira de Adão até Noé, a expectativa de vida era de novecentos anos, que acompanhou todo o período pré-diluviano, cerca de 1.656 anos[29]; já na pós-diluviana, que vai de Noé até Jacó, dentro de trezentos e noventa anos, a longevidade caiu vertiginosamente de novecentos anos para cem anos.

Na geração pós-diluviana, quem viveu mais de seiscentos anos foram Noé, Sem; Arfaxade, Salá e Héber viveram mais de quatrocentos anos; Peleque Réu, Segure e Terá, pai de Abraão, viveram mais de duzentos anos e; Naor, Abraão, Isaque e Jacó, mais de cem anos.
Outra queda na qualidade de vida pós-diluviana, aconteceu na idade da procriação. Sem, segundo descendente, e Abraão, décimo, gerou Isaque aos cem ano. Contudo, aos oitenta e seis anos Abraão gerou a Ismael com a escrava Egípcia Hagar e a média de geração do primeiro filho caiu de cento e dez anos, geração pré-diluviana, para cinquenta anos, pós-diluviana.

Todavia, ao observarmos o cronograma da geração pré-diluviana, veremos que Sem teve seu primeiro filho na casa dos cem anos; Terá, na casa dos setenta anos, Isaque, na dos sessenta anos; Arfaxade, Selá, Héber, Pelegue, Réu e Sergue na casa dos trinta nos anos; e Naor, avô de Abraão na casa dos vinte anos.

Ainda, analisando o cronograma, observamos que pai e filho, Peleque e Reu, respectivamente, viveram o mesmo período de existência, duzentos e trinta e nove anos, e geraram o primeiro filho com dois anos de diferença de um para o outro: Peleque, trinta anos; Réu, trinta e dois anos.

Outra coincidência entre pai e filho, na linhagem pré-diluviana, foi a dos descendentes Arfaxade e Selá. Os dois viveram, depois que gerou o primeiro filho, a mesma quantidade de anos, quatrocentos e três anos. O pai gerou o primeiro filho com trinta e cinco anos; o segundo, com trinta. Portanto, o tempo de vida do pai é de cinco anos mais do que o do filho.

O Patriarca Isaque foi o descendente que mais conviveu com a morte de antecedentes, no total de cinco, sendo eles: Sem, Peleque, Serugue, Naor e Tera.


Algumas considerações

Deus ao criar as coisas, deixou com o homem a incumbência de passar a história de geração para geração e com narrativa das testemunhas que vivenciaram os fatos, vejamos:
Adão contou aos seus descendentes a revelação do próprio Deus sobre a criação do universo. Contou, também, sua queda, as consequências da queda, o assassinato de Caim, que matou seu irmão Abel, a linhagem de Caim, o desenvolvimento tecnológico na fabricação de tendas, do domínio sobre animais, da fabricação de instrumentos de sopro e da produção de instrumentos cortante de bronze e de ferro, que, certamente, foram utilizados por Noé e seus filhos  para construção da arca, que por sua vez repassaram às suas descendências pós-diluviana.[30];
Adão pode ter contado os fatos acima mencionados, pessoalmente a oito descendentes, inclusive Lameque, que repassou para o seu filho Noé e para os seus netos Sem, Cam e Jafé;
Os descendentes de Adão que o ouviram sobre as histórias, também, a repassaram para as gerações posteriores;
Sem pode ter contado a história da criação de seu avô, Lameque, que por sua vez a ouviu do próprio Adão, bem como pode ter contado a história do dilúvio, como testemunha que vivenciou, para seus descendentes contemporâneos, inclusive para Isaque, que contava com cinquenta anos quando Sem morreu;
Noé começou a construir a arca quando contava com quatrocentos e oitenta anos[31] e entrou nela com a idade de seiscentos anos, tempo que começou o dilúvio[32]. Portanto, foram cento e vinte anos que Noé pregou acerca da destruição do mundo pelas águas, chamando seus contemporâneos ao arrependimento[33];

A narrativa bíblica sobre a história da criação, bem como da do dilúvio é cronológica, coerente e detalhista, inclusive com a descrição do aparecimento das primeiras civilizações;

Assim como no início da criação as águas tomaram a face da terra, da mesma forma Deus, no dilúvio, cobriu toda a terra com água, e a montanha mais alta ficou abaixo quinze côvados, aproximadamente seis metros e setenta e cinco centímetros. Na criação, as águas participaram da organização da criação. No dilúvio as águas provocaram caos e destruição[34];

Assim com na criação o Criador instituiu a família, na queda prometeu o descendente que esmagaria a cabeça da serpente, no dilúvio Deus preservou a família da qual descenderia Jesus Cristo que traria salvação para todo aquele que nele crer;

Assim como os relatos das gerações descrevem o nascimento, a geração e a morte dos indivíduos pré e pós-diluvianos, assim também é a história de todos nós, seres humanos, que por meio de Adão a morte passou a todos os homens[35];

Assim como Deus trouxe juízo para a humanidade que viveu a era pré-diluviana, por causa da multiplicação da iniquidade, O Supremo Juiz trará juízo para toda a raça humana, trazendo salvação para aqueles que crerem em Jesus como Senhor e Salvador, e condenação para os que não crerem em seu nome[36], porque: “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”[37].
Toda honra e glória ao Senhor Jesus!

Referências bíblicas sobre a descendência:
Geração
Indivíduo
Nascimento - Morte
1
Adão
Gêneses 1.26 - Gêneses 5.3-5
Sete
Gêneses 5.6 - 8
Enos
Gêneses 5.9-11
Cainã
Gêneses 5.12-14
Maalalel
Gêneses 5.15-17
Jerede
Gêneses 5.18-20
Enoque
Gêneses 5.21-24
Metusalem
Gêneses 5.25-27
Lameque
Gêneses 5.25-31
10ª
Noé
Gêneses 5.32 – Gêneses 9.28-29
11ª
Sem
Gêneses 11.10-11
12ª
Arfaxade
Gêneses 11.12-13
13ª
Salá
Gêneses 11.14-15
14ª
Héber
Gêneses 11.16-17
15ª
Pelegue
Gêneses 11.18-19
16ª
Réu
Gêneses 11.20-21
17ª
Serugue
Gêneses 11.22-23
18ª
Naor
Gêneses 11.24-25
19ª
Tera
Gêneses 11.26-32
20ª
Abraão
Gêneses 11.26-Gêneses 25.7
21ª
Isaque
Gêneses 21.5 – Gêneses 35.29
22ª
Jacó
Gêneses 25.21-26 – Gêneses





[1]  IBGE: expectativa de vida dos brasileiros aumentou mais de 40 anos em 11 décadas. EBC -Agência Brasileiro. Acesso em:

[2] Gêneses 1.31.
[3] Gêneses 3.17.
[4] Entropia é a grandeza que mede a desorganização do universo e sua Lei
[5] Gêneses 3.15.
[6] Gêneses 3.24 a 4.1-2.
[7] Gêneses 5.24.
[8] Gêneses 5.30.
[9] Gêneses 7.13.
[10] Gêneses 6.1-3.
[11] Gêneses 6.5.
[12] Gêneses 6.8.
[13] Gêneses 9.1.
[14] Gêneses 9.28.
[15] Mateus 19.4-5.
[16] Gêneses 10.32.
[17] Gêneses 9.28-29.
[18] Gêneses 11.10-11.
[19] Gêneses 11.12-13.
[20] Gêneses 11.14-15.
[21] Gêneses 11.16-17.
[22] Gêneses 11.18-19.
[23] Gêneses 11.20-21.
[24] Gêneses 11.22-23.
[25] Gêneses 11.24-25.
[26] Gêneses 11.26-32.
[27] Gêneses 25.7.
[28] Gêneses 35.29.
[29] Chega-se a esse número somando a idade da  primeira procriação, de Adão até Lameque, mais a idade em que Noé entrou na arca: Adão 130 anos + sete, 105 + Enos, 90 + Cainã, 70 + Maalalel, 162 + Enoque, 65 + Matusalém, 187 + Lameque, 182 + Noé, 600 (ano do dilúvio) = 1.656 anos.
[30] Gêneses 4.19-23.
[31] Gêneses 6.3.
[32] Gêneses 7.11.
[33] Nação é o agrupamento político que ocupa território com limites definidos e cujos membros respeitam instituições compartidas (leis, governo), mas na Bíblia, as etnias entram na definição.
[34] Gêneses 1.2 e 7.21-22.
[35] Romanos 5.12.
[36] João 3.36.
[37] João 3.16.